segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Estágio de Alpinismo no Monte Branco | Fotos

No dia 2 de Setembro de 2011, no âmbito de um Estágio de Alpinismo no Monte Branco realizado pela loja Espaços Naturais, apanhamos um avião para Milão, seguindo posteriormente pelas estradas italianas até aos Alpes.

Utilizando o refúgio “Monte Bianco”, localizado nas imediações de Courmayeur, como base logística, realizamos várias visitas às altas montanhas que separam Itália e França, percorrendo os seus imensos glaciares e monumentais arestas, onde o branco predomina nas elevadas cotas do maciço alpino, numa paisagem inesperada e singular, que merece ser vivida devido à sua imensa beleza, sempre com um enorme sentido de responsabilidade, devido aos inúmeros riscos que esta encerra para os potenciais visitantes.

No decurso do estágio, aprendemos como explorar este “mundo dentro do nosso mundo”, onde os perfis de relevo esculpem-se em gelo e pedra. Fracturas imensas na água gelada, depressões monumentais em pendentes inclinadas, acompanharam-nos numa jornada que permitiu vivenciar quilómetros de extensão de paisagem.

Os montes irmãos dos Alpes suíços, franceses e italianos, encontravam-se reunidos no horizonte como gigantes colossais, guardiães dos vales mais abaixo, onde repousa a civilização: Chamonix em França, e Courmayeur em Itália, com o maciço montanhoso alpino no meio, assinalando a fronteira de dois países.

Depois de um período de aclimatação à altitude condicionado por condições climatéricas adversas, com o som grave das avalanches ecoando no vale do rio Veny oriundo das montanhas brancas que ladeavam o refúgio “Monte Bianco”, partimos no dia 8 de Setembro rumo ao refúgio “Cosmiques” em França, para iniciar uma rota de ascensão rumo ao cume do Monte Branco, localizado a 4808 metros de altura, através do itinerário dos “três montes”.

Abandonamos o “Cosmiques” às 2:20 da madrugada do dia 9 de Setembro, atravessando a área glaciar do “Col do Midi” na escuridão, iluminando o gelo com as nossas lanternas frontais. Na vertente norte do “Mont Blanc du Tacul” (4248 metros de altura) avistavam-se outros pontos de luz distantes na pendente inclinada da encosta, que seguiam em silêncio rumo a um destino previsível. Para além do nosso grupo, outros partilhavam o nosso objectivo, atravessando a noite fria, calcando trilhos gelados rumo às cotas superiores alpinas.

Depois de subirmos o “Mont Blanc du Tacul”, passando por uma rimaia silenciosa, com um buraco retorcido rasgado até às profundezas da montanha, iniciamos uma descida em direcção do colo que nos conduziu ao “Mont Maudit” (4465 metros de altura). As luzes dos outros viajantes surgiram novamente numa parede negra invisível, que anunciava várias horas de esforço rumo ao topo do monte que nos separava do Monte Branco.

Iniciamos uma ascensão demorada, que foi temporariamente suspensa no inicio de uma passagem que requeria a montagem de cordas para efectuar a escalada de uma parede de gelo com várias dezenas de metros para transpor uma alta aresta do Monte Maldito.

As horas passaram frias enquanto preparávamos o equipamento para iniciar a escalada, aguardando a altura certa para subir. As estrelas circularam pela cúpula celeste e a primeira luminescência do dia surgiu, revelando uma encosta vertiginosa, com as luzes amarelas de Chamonix a mais de 4000 metros abaixo. Com os pés congelados e um frio húmido nos ossos, suspensos no dorso vertical do Maldito, é fácil sentir o cansaço e a pequenez dos corpos humanos perante a vastidão da paisagem alpina, que se começava a revelar no horizonte, com os seus altos cumes rasgando as nuvens, coloridos em sucessões de azul que rapidamente ganhavam reflexos dourados nas derradeiras horas da madrugada.

Neste período nocturno não foram registadas fotos por motivos facilmente decifráveis.

O dia chegou, e iniciamos a subida final em escalada até ao topo do monte. Lá em cima, o Monte Branco aguardava-nos nas alturas, com um trilho rasgado no gelo rumo ao cume, que só foi alcançado passadas várias horas.

Passo a passo, numa caminhada entre gelos antigos, com as cumeadas brancas no horizonte afastamo-nos do Tacul e do Maldito, iniciando a ascensão final até aos 4808 metros de altura.

No cume do Monte Branco o horizonte revelou-se vasto e deslumbrante. Em pleno céu, olhando do ponto mais alto da Europa Ocidental, avistamos sucessões de cumeadas temperadas com nuvens mansas, num dia luminoso de final de Verão.

Depois do cume, regressamos ao Maldito, descendo em “rapel” pela via que umas horas antes tínhamos escalado, descobrindo uma paisagem luminosa que anteriormente tínhamos percorrido na escuridão.

Passamos novamente no Tacul, e espreitamos a rimaia agora iluminada pelo sol, seguindo até ao Cosmiques, terminando uma actividade com mais de dezassete horas ininterruptas de duração.

No dia seguinte, atravessamos o “Glaciar do Gigante” até ao teleférico que nos conduziu em segurança até Entréves, localidade adjacente a Courmayeur, assente no vale do Veny.

Deixamos o Monte Branco nas alturas e os restantes montes irmãos com as suas paisagens monumentais geladas, que inspiraram a imaginação de tantos escritores de histórias de fantasia, passíveis de ser verdadeiramente percorridas para além das páginas dos livros, num mundo real que aguarda visita.