quarta-feira, 30 de março de 2011

Percurso da Água 03/04/2011


No próximo dia 3 de Abril de 2011 será efectuado o “Percurso da Água” na Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d'Arcos, em Ponte de Lima.

Com aproximadamente 12,79 quilómetros de extensão, e um grau de dificuldade considerado “fácil”, o trilho passa por uma variedade de habitats (zonas húmidas, bosques de vegetação natural, pastagens, áreas agrícolas) ao longo de pequenos cursos de água atravessados pelo rio Estorãos.

De acordo com a informação fornecida pelo site oficial das Lagoas de Bertiandos, poderemos desfrutar de uma vegetação variada, constituída por amieiros, carvalhos, salgueiros e vidoeiros, que conferem ao local “potencialidades particulares em termos de habitat de alimentação e refúgio para várias espécies de fauna”.

O site também refere que “em termos de flora e vegetação, a zona apresenta um interesse elevado, que se traduz no registo de aproximadamente 80 espécies vegetais consideradas raras ou em vias de extinção”, o que confere ao local um estatuto de protecção na Rede Natura 2000.

Uma motivação adicional para a realização deste trilho são as próprias lagoas, que se espera que estejam bem cheias devido à chuva que se tem feito sentir, o que é particularmente propício para que se possa desfrutar dos cursos de água e zonas lagunares em todo o seu esplendor.

O ponto de encontro para a viagem è o Mac Donalds dos Aliados, às 09:00 da manhã do dia da caminhada (é a referência mais prática para todos). Às 09:15 iniciamos a viagem de aproximadamente 1 hora.

Não se esqueçam de levar comida, agua, impermeável, e botas de montanha.

Caso estejam interessados em participar mandem um e-mail de confirmação para evasaoverde@gmail.com.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Rota do Passado | Fotos

A planície Alentejana encontra-se repleta de mistérios antigos que se escondem entre as pedras de antas, castelos e templos. A “Rota do Passado”, para além de contemplar uma componente paisagística bastante diversificada, foi uma autêntica viagem no tempo.

O trilho proposto pela Organizações Turisterra permitiu-nos visitar locais de enorme riqueza histórica, de uma forma que superou as nossas expectativas.


Iniciamos a caminhada em Valverde, onde os nossos anfitriões nos aguardavam hospitaleiramente. As condições meteorológicas ameaçavam aguaceiros, que só apareceram verdadeiramente no final do trilho. Durante o dia as nuvens foram dando algumas oportunidades de o sol brilhar, permitindo que este despertasse as flores que pontilhavam o verde intenso das pastagens com brancos, amarelos e lilases.

Começamos por um caminho florido, que passou por antigas pastagens, que se encontravam repletas de água e girinos. Ao final de algum tempo foi possível contemplar um dos pontos de especial interesse do dia: o monte onde se encontram as ruínas do “Castelo de Giraldo”.

O “Castelo de Giraldo” é essencialmente um antigo castro da idade do bronze, cuja muralha subsistiu até ao presente. Para além disso, existem escritos do século XV que se referem à fortificação, associando-a à presença de Giraldo “Sem Pavor”, guerreiro que conquistou Évora aos muçulmanos em 1165, tendo utilizado o monte como um ponto estratégico para conseguir o seu objectivo.

Para chegarmos ao “Castelo” tivemos que subir o Monte da Provença, passando pela sua capela, repleta de recordações de promessas feitas por gentes de “alma lusa”: mulheres que viram os maridos partir para a guerra, mães que pediram ao divino a cura para os males dos filhos, gentes que sofreram com a fome e suplicaram por mesas mais fartas. Os Turisterra, conhecedores das gentes e dos locais, solicitaram à cuidadora da igreja que nos abrisse a porta deste local repleto de sentimento e sombras de relíquias antigas, que ilustram o espírito de ser português num Portugal real.

Respeitosamente partimos, continuando a subida da Provença através de uma área onde o caminho fora recentemente lavrado, sem "motivos compreensíveis", uma vez que encontrávamo-nos numa zona arborizada.

Uma vez chegados às muralhas do “Castelo” pudemos avistar a cidade de Évora e a aldeia de Valverde, e fazer uma pausa para observar a área por onde se iria estender o nosso caminho.

Descemos do monte do "Castelo" através de um bosque de eucaliptos, onde foi possível avistar algumas colmeias (felizmente o tempo estava suficientemente húmido para manter as abelhas ocupadas nas suas lides domésticas), e seguimos novamente até às imediações de Valverde, passando por um charco repleto de rãs.

Atravessamos a ribeira de Valverde e seguimos pelo Montado rumo à Anta grande do Zambujeiro. O caminho encontrava-se ladeado de pastagens imensas pontuadas por sobreiros e vacas que pastavam calmamente.

A Anta aguardava pacientemente por nós. Considerada como a maior da Península, transporta-nos para o Neolítico, tempo em que foi utilizada para enterrar e homenagear os mortos, servindo provavelmente também como um Santuário para os vivos.

O caminho curvou novamente para as imediações de Valverde, passando perto do Aqueduto do Conventinho do Bom Jesus, mandado edificar no século XVI pelo Cardeal Infante Dom Henrique, primeiro arcebispo de Évora e futuro rei Henrique I de Portugal, nos terrenos da Quinta do Paço de Valverde, para albergar uma comunidade de frades capuchos.

Os capuchos ficaram para trás e seguimos para uma área de pasto, diversificada na sua ocupação. Porcos pretos, bois, e ovelhas receberam-nos calmamente com o seu sorriso enigmático, que se alargou quando partilhamos com eles alguma fruta que trazíamos na mochila.

Deixamos o gado por alguns momentos, e mergulhamos em planícies verdes vigiadas por Antas e cegonhas que descreviam longas parábolas sobre as nossas cabeças. Do caminho avistamos a Anta da Mitra, a Anta do Álamo, passamos por um charco repleto de avifauna, até que chegamos à pequena e sincera Igreja da Nossa Senhora de Tourega. Mais uma vez, os Turisterra contactaram o cuidador do local, que gentilmente nos abriu a porta do templo para que pudessemos conhecer o seu interior antigo repleto de significados.

Deixando Nossa Senhora de Tourega, dirigimo-nos para o amplo complexo termal da Villa Romana, utilizada desde meados do século I até finais do século IV d.C. como “SPA” junto à estrada romana que ligava Évora a Alcácer do Sal.

Hoje restam apenas três tanques de banhos, de planta rectangular, construídos por muros de argamassa, que nos recordam um passado remoto, agora presente sobre o espelho de água da barragem da Tourega.

Seguimos para jusante da barragem, contemplando o sistema de arejamento da água da albufeira, água esta que passa sobre toda a extensão da estrutura, descendo por uma sucessão de escadas até à sua restituição à ribeira.

Posteriormente, o nosso guia dos Turisterra conduziu-nos para a margem da albufeira, para supostamente “contemplarmos as vistas”. Subitamente, no horizonte surgiu um barco “zebra” com um condutor hospitaleiro que se aproximou da margem, convidando-nos para entrar. O navegador (dos Turisterra) conduziu-nos ao longo de aproximadamente 1,5 quilómetros pela albufeira, poupando-nos um troço pedestre do caminho, que se converteu em navegação sobre as águas calmas da Tourega.

Os Turisterra tinham mais uma surpresa depois da viagem de barco: quando atracamos na outra margem tínhamos um churrasco à nossa espera, acompanhado de bom vinho e boa companhia.

Colocado o barco em terra, seguimos rumo ao Moinho do Cavaterra, acompanhando a bela Ribeira de Valverde. Atravessamos uma ponte pedonal, já ao entardecer, e seguimos por uma área semi-alagada que nos conduziu até à aldeia, sempre próximos do curso de água.

A beleza natural deste troço foi uma constante até ao final do trilho, que incluiu uma pequena paragem para admirar a fonte onde se encontra a estátua de Moisés (já em Valverde).

Quando percorríamos os últimos metros de caminho rumo ao café da Junta de Freguesia (local onde tínhamos deixamos as nossas viaturas), a chuva entretanto fez-se sentir, assim como a satisfação genuína de ter efectuado um belíssimo trilho, na companhia de um grupo de caminhadas acolhedor, que impulsiona de uma forma hospitaleira e informada, a divulgação do património histórico e natural de um Alentejo que vale a pena descobrir “passo a passo”.

Muito gratos partimos, com o desejo de voltar para descobrir muitos outros pontos de interesse que existem na região, e desfrutar da boa companhia dos nossos camaradas do Sul.

Esculpida sob um céu surpreendentemente estrelado, Évora aguardava-nos com um bom jantar.
No Domingo, o prometido foi devido: a visita ao Templo de Diana.

Após o excelente concerto de Terrakota (Sexta-Feira), a descoberta da “Rota do Passado” na companhia dos Turisterra (Sábado), a visita ao Templo de Diana e ao centro histórico de Évora (Domingo), decidimos seguir para o Cromeleque dos Almendres, onde encerramos a nossa Evasão, rodeados por um círculo de pedras milenares, daquele que provavelmente foi um dos mais importantes observatórios astronómicos da antiguidade.


Com as botas cheias de terra, e a mente repleta de paisagens autênticas, deixamos um Alentejo florido, transbordante de natureza e mística, que nos aguarda para uma próxima Evasão.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Rota do Passado 26/03/2011

Pendurada nos Pirenéus, a Ibéria contempla um Atlântico repleto de navios naufragados e tesouros escondidos nos porões de caravelas que nunca chegaram aos portos de abrigo.

Desde a foz do Rio Minho, a costa portuguesa curva-se numa linha de praias e vilas de pescadores, escoltadas por montanhas verdejantes e frescas, palco de vidas e vivências marcadas pelo som das enxadas e dos tambores de gentes que fazem da terra uma grande canção.

Na próxima Evasão encurtaremos a distância que separa um norte húmido e ventoso (onde a Primavera ainda mal chegou) dos campos mais a sul, transbordantes de flores, já despertas por um clima solarengo. No interior do Alentejo profundo Évora aguarda-nos, juntamente com o seu passado milenar, evidenciado pelas Antas, Cromeleques e Menires dispersos num vasto território rico em história e tradições.

Desta vez a organização da caminhada será efectuada pelo grupo eborense Turisterra, que gentilmente se prontificou a conceder-nos o privilégio de apresentar-nos a região através de um trilho recente, particularmente promissor.

A Rota do Passado é um percurso circular com uma extensão de aproximadamente 18 km, com inicio/fim em Valverde, pequena povoação localizada em pleno coração da vasta região Alentejana (no sopé da Serra de Monfurado).


Toda a região manifesta importantes vestígios de ocupação humana desde períodos remotos, como se poderá observar na Anta Grande do Zambujeiro de Valverde (a Anta maior que se tem conhecimento em toda a Península Ibérica) ou no Castro do Castelo do Giraldo.

Nesta pacata povoação rural poderemos observar as ruas tradicionais Alentejanas de casario branco, animado com faixas coloridas que rodeiam janelas e portas, e contemplar o Convento de Bom Jesus de Valverde.

No decurso do percurso descobriremos a Villa Romana de Tourega (importante complexo termal Romano), o Moinho de Cavaterra, o Monte da Provença e a sua capela, calcorreando caminhos pedonais que atravessarão cursos de água e capítulos da história da humanidade.


O ponto de encontro para a caminhada è a entrada da Junta de Freguesia de Valverde, localizada nas coordenadas 38°32'0.96"N e 8°1'25.51"W às 10 horas da manhã do dia 26 de Março de 2011. Caso desejem participar deverão enviar e-mail de confirmação para evasaoverde@gmail.com, não esquecendo de levar comida, água, impermeável, e botas de montanha.

Caso desejem integrar o grupo que efectuará a deslocação para Évora ao final da tarde do dia 25 de Março de 2011 a partir do Norte, deverão enviar um e-mail para evasaoverde@gmail.com, para que possa ser organizada a logística da viagem.

Existe uma mais-valia cultural na ida antecipada para Sul: o concerto dos Terrakota que será realizado no dia 25 no Teatro Garcia Resende em Évora, no seguimento do tour de apresentação do novo álbum "World Massala" (caso desejem assistir ao concerto convém efectuar a reservas dos bilhetes com antecedência).

O regresso do grupo do Norte à Invicta será efectuado no dia 27 de Março de 2011 durante a tarde, após um passeio pelas muralhas de Évora que certamente contemplará uma visita ao Templo de Diana.

Natureza, História, Música, e boa Gastronomia serão as palavras-chave de uma Evasão multicolor a um Alentejo verde que valerá a pena descobrir.

domingo, 20 de março de 2011

Nas fisgas do Ermelo | Fotos

Depois de um excelente dia de sol, com temperaturas a rondar os 20 graus, e boa disposição com rating altamente positivo, resta proceder ao registo de mais uma Evasão no nosso “diário de bordo”.

O trilho previsto, com aproximadamente 10 km, foi iniciado em Varzigueto, aldeia tradicional composta por casas rurais construídas em granito, rodeadas por pastagens verdes e férteis, irrigadas pelas águas “bem oxigenadas” do rio Olo.

À chegada, a aldeia brindou-nos com uma Taberna acolhedora, de terraço soalheiro e ampla mesa, onde pudemos calmamente desfrutar do nosso almoço com vistas amplas para o povoado e para os montes envolventes.

Depois de um almoço animado com uma conversa franca com a anfitriã, a caminhada principiou por um caminho rural que nos conduziu até a primeira travessia do Olo, que foi realizada saltando de "pedra em pedra", numa passagem relativamente acessível para todos aqueles que possuem o mínimo de destreza física.

Deixando o rio para trás por uns instantes, efectuamos uma suave subida por uma área moderadamente arborizada até um planalto onde pudemos desfrutar de horizontes amplos sobre as serranias envolventes, e sobre uma mancha densa de pinheiral para a qual nos dirigimos.

O pinheiral trouxe um pouco de frescura a uma caminhada brindada pela companhia de um sol jovial de Primavera que já aquece, e acelera as necessidades de hidratação, especialmente em áreas expostas à sua influência directa. Entre os pinheiros surgiu uma área aberta onde foi possível contemplar o Monte da “Senhora da Graça”, local onde é efectuada a mítica subida na Volta a Portugal em Bicicleta.

Deixamos o pinheiral e seguimos finalmente para as Fisgas do Ermelo. A nossa visão do trilho transformou-se: o caminho que estava a ser “pouco exigente fisicamente”, com “vistas fantásticas”, e “diversos interesses paisagísticos”, passou a ser, ao longo de cerca de 1 km, “moderadamente exigente”, com “vistas fabulosamente inacreditáveis”, e com “risco de queda em altura moderado”, facilmente controlado devido ao tempo seco, e à passada calma e planeada do grupo.

Tudo correu pelo melhor! Explorar a sucessão de cascatas que constituem as Fisgas foi estar em contacto com um "postal real" de um dos verdadeiros e mais preciosos tesouros naturais de Portugal. Convém referir que entre as cascatas verificamos que existem lagoas, relativamente acessíveis, que se afiguram óptimas piscinas para o Verão que se aproxima.

Numa parte mais a montante das escarpas tivemos que atravessar novamente o Olo, deste vez descalços, num local onde o principal inconveniente foi o frio da água cristalina que nos recorda a nossa recente saída do Inverno, e nos fez guardar os mergulhos nas lagoas para daqui a “uns mesitos”.

Depois de mais umas panorâmicas das escarpas, voltamos aos caminhos rurais, onde fomos saudados por grupos de cabras nas encostas e por uma subida calma e ensolarada até à bela aldeia de Varzigueto.

Escusado será dizer, que depois de um dia tão bem passado, terminamos onde começamos: na Taberna!

Fomos brindados com aperitivos bem preparados, maravilhosamente acompanhados por um vinho branco de qualidade superior, encarado como “o vinho da casa”. A anfitriã mostrou-se bastante acolhedora, e informou-nos que depois de futuras caminhadas podemos agendar uma jantarada na Taberna, onde poderão ser servidos os grandes pratos da cozinha nortenha, iluminados pelos raios de sol que se perdem entre as montanhas, na boa mesa do terraço.

E foi já depois do por do sol que partimos rumo ao Porto, deixando o Alvão com um ceú azul-escuro, recortado pelas montanhas que aguardavam a chegada do luar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Nas fisgas do Ermelo 20/03/2011


No próximo dia 20 de Março de 2011 será efectuado o percurso pedestre “Nas fisgas do Ermelo” na Serra do Alvão.

Conforme se pode constatar no mapa disponibilizado, o trilho contornará uma cascata com mais de 200 metros de extensão cavados em solo granítico ao longo de milénios de existência pelas águas calmas, mas perseverantes do rio Olo, que nasce no Parque Natural do Alvão.

Antes de se dar inicio ao contínuo de quedas de água teremos lagoas cristalinas, muito usadas nas épocas de veraneio, para uns bons mergulhos conforme o relato daqueles que já lá foram e nos deixaram “a pulga atrás da orelha”.

Para além disso, sabe-se que a Serra do Alvão é conhecida por possuir uma vegetação diversificada, onde os carvalhos são frequentes, assim como a aveleira, o azevinho, o castanheiro e o loureiro, formando bosques repletos de biodiversidade, o que será bastante interessante explorar.

Convém informar que este trilho, apesar de apresentar um nível de dificuldade baixo, não é oficial (logo não se encontra sinalizado). Assim, a orientação será efectuada exclusivamente com recurso ao mapa e ao GPS, pelo que os participantes deverão estar preparados para “o que der e vier” (geralmente são só coisas boas).

No entanto é um trilho muito popular na base de dados da Wikiloc, recomendado pelos blogs da especialidade.

O ponto de encontro para a viagem è o Mac Donalds dos Aliados, às 09:00 da manhã do dia da caminhada (é a referência mais prática para todos). Às 09:15 iniciamos a viagem de aproximadamente 1 hora e 30 minutos.

Não se esqueçam de levar comida, agua, impermeável, e botas de montanha.

Caso estejam interessados em participar mandem um e-mail de confirmação para evasaoverde@gmail.com.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Arribas do Cabo de São Vicente 08/03/2011

Depois de explorarmos os três trilhos pedestres de Odemira, ficamos com curiosidade em conhecer o fim da Costa Vicentina - o Cabo de São Vicente.

De acordo com o website “O Portal do Algarve”, o Cabo já era considerado um lugar sagrado nos tempos Neolíticos. Os antigos gregos chamavam-no de “Ophiussa” (Terra das Serpentes), habitado pelos “Oestriminis” (Gentes do Extremo Oeste), enquanto os romanos referiam-se ao Cabo como “Lugum Cineticum” - o lugar onde o sol era cem vezes maior que até fazia ferver o mar. Os cristãos seguiram a tradição e dedicaram a última zona da terra então conhecida a São Vicente, dando também o nome à costa adjacente (Costa Vicentina).

Conta a lenda que o corpo de São Vicente foi transportado no século IV para uma ermida erigida neste lugar remoto, que viria a ser destruída pelos “almorávidas” (monges guerreiros árabes) no século XII. Mais tarde, nos reinados de D. João III e D. Sebastião, foi aqui erguida uma fortaleza, que viria a ser destruída pelo corsário inglês Francis Drake e refeita em 1606.

Com uma paisagem indescritível, onde a terra com os seus rochedos corta o mar infinito, o Cabo de São Vicente é imagem do sentimento descobridor Português. Para norte, fica a costa atlântica batida pelos ventos, enquanto para leste está a costa algarvia de águas mais quentes e mar suave. Ainda hoje, boa parte da navegação comercial entre o Mediterrâneo e o Atlântico passa ao largo deste cabo, o que permite imaginar a riqueza arqueológica destes fundos.


O trilho “Arribas do Cabo de São Vicente”, com uma extensão de aproximadamente 10,5 km e um grau de dificuldade moderado, não se encontra sinalizado, tendo sido obtido a partir da Wikiloc, e realizado com o apoio de um dispositivo GPS.

Com inicio no parque de estacionamento do Núcleo Museológico do Farol de São Vicente, o trilho começou por percorrer as falésias do Cabo, com panorâmicas fantásticas do farol e das enseadas que o separam de Sagres, onde durante largos séculos os navios resguardaram-se dos ventos, esperando condições favoráveis para desafiar o Atlântico.

Quando chegamos próximo da Fortaleza de Belixe, depois de alguns quilómetros pela parte sudoeste, o trilho conduziu-nos para uma travessia através do interior do cabo, passando por uma área plana (paraíso autêntico dos botânicos e dos amantes do “Bird Watching”), com o azul do oceano como fundo, e um céu povoado por aves suspensas sobre o verde intenso da paisagem pintado com as cores das flores que despontam.

Entre as delicadas fragrâncias de uma vegetação rasteira e diversificada, chegamos à praia da Armação Nova. Abraçada por falésias colossais que surpreendem com a sua verticalidade e extensa projecção na linha de horizonte, a praia, localizada na costa noroeste do cabo, revela-se como um dos quadros mais sublimes do trilho.

O sol encontrava-se na iminência de mergulhar na linha do horizonte. Após uma breve pausa para contemplar a Armação Nova, continuamos a caminhada rumo ao farol que entretanto despertou com o seu pulsar intermitente, ao som do cântico dos grilos e das aves, que anunciavam o final do dia. As falésias tornaram-se azuladas, e a noite entretanto chegou.

Quando nos aproximamos do farol, a luz da lua em quarto crescente iluminava o vulto de um pescador e a sua cana de pesca com linha invisível sobre o abismo, contemplando a borda negra de um Atlântico nocturno onde as primeiras estrelas começavam a despontar.

Lapa das Pombas 06/03/2011

Deixamos o montado verdejante, repleto de aromas e cores, e seguimos para a costa, onde as falésias nos aguardavam. Depois de percorrermos o PR3 seguimos directamente para o PR1, iniciando o trilho a cerca de duas horas do por do sol.

Esta resolução ao final do dia teve algumas vantagens e algumas desvantagens. A principal vantagem resulta das fotos maravilhosas que se conseguiram obter antes do por do sol, com uma intensidade de cores surpreendente. A principal desvantagem foi não se ter conseguido obter fotos depois do por do sol, especialmente quando percorremos a borda do Atlântico sobre pedras e poças que permitiram efectuar uma lavagem completa da lama do PR3.

Com aproximadamente 8,9 km, o PR1 inicia-se no centro da aldeia de Almograve, e apresenta “oportunidades de melhoria significativas” no que diz respeito à sinalização. Essas “irregularidades” originaram a que por vezes nos afastássemos do trilho oficial, e perdêssemos alguns dos preciosos raios de sol que precisávamos para efectuar toda a caminhada antes da chegada da noite, conforme mandam as “boas práticas”.

O trilho foi efectuado no sentido contrário aos ponteiros do relógio, partindo da estrada em asfalto que nos trouxe a Almograve. Depois de alguns metros de estrada, surgiu um estradão de terra que conduziu-nos para uma larga área de pastoreio, que ao final de algum tempo converteu-se em duna, permitindo-nos alcançar as bordas das falésias que esculpem a Costa Vicentina.

Seguimos pelo alto das falésias, deslumbrados pela paisagem, até alcançarmos o riacho que atravessa a Praia da Foz do Ouriços. Depois de molhar os pés na travessia, seguimos para a base das falésias, percebendo mais tarde que o trilho oficial deveria seguir pelo topo das mesmas, e não pelas suas fundações, junto ao mar.

Depois de uma travessia “ousada” pelas pedras que sustentam o mergulho íngreme das falésias no oceano, chegamos à Praia principal de Almograve, onde pudemos finalmente subir em segurança através de uma escada instalada na rocha, e encontrar o passadiço em madeira do caminho oficial.

O troço final do trilho (o acesso à Lapa das Pombas), só foi realizado no dia seguinte, devido à hora tardia a que foi concluída a parte circular do PR1. Infelizmente, o dia 7 de Março acordou tempestuoso, e manteve-se assim durante toda a tarde. A chuva intensa impediu que se dispensasse o tempo necessário para obter fotos dignas do troço que liga Almograve ao porto de abrigo da Lapa das Pombas.

No entanto, ficaram registadas algumas imagens, que, apesar do “lusco-fusco” (do dia 6) e da tempestade (do dia 7), conseguem esboçar uma parte ínfima da grandiosidade das arribas da Costa Vicentina.

Para mais informações sobre o trilho clique aqui. Para obter o trilho em formato GPX ou KML, envie uma solicitação para evasaoverde@gmail.com.

Troviscais 06/03/2011

Com cerca de 13,6 km, o PR3 de Odemira começou no centro da aldeia de Troviscais, no largo do café, seguindo depois por um estradão através de montes verdejantes, vigiados por gado calmo que repousava na paisagem.

O caminho serpenteou por um eucaliptal, e lançou-se numa paisagem ampla, no lugar de Pampilhais. Ao fim de alguns minutos, a ribeira do Torgal surgiu ao longe rodeada de vacas que pastavam serenamente na margem esquerda.

Algumas nuvens passeavam lentamente no céu, enquanto percorríamos a margem direita da ribeira (até ao ponto de encontro com o Rio Mira) rodeados por aluviões e zonas de sapal, que por vezes originaram uns “enterranços” valentes na lama até ao tornozelo. Neste troço percebemos porque é que a altura recomendada para realizar o trilho encontra-se compreendida entre a Primavera e o Verão.

A dada altura surgiu um cenário excelente para os amantes do “Bird Watching”: o caminho desenvolveu-se no topo de uma represa natural, como uma ponte suspensa entre dois espelhos de água, revelando o habitat natural das garças, das cegonhas, dos guarda-rios e das galinhas de água que por ali habitam.

Depois de contornar parte do espelho de água o caminho conduziu-nos pela encosta, onde foi possível observar o serpentear do Rio Mira entre os montes, e os barcos de pescadores calmamente repousados na sua superfície.

Despedimo-nos do Mira, e seguimos por entre um bosque até uma área alagada, onde fomos novamente surpreendidos pela exuberância da avifauna… e por uma longa subida até ao centro da aldeia de Troviscais, temperada pelos aromas da lavanda e do alecrim, que se desprendiam da vegetação florida anunciando a chegada da Primavera.

Para mais informações sobre o trilho clique aqui. Para obter o trilho em formato GPX ou KML, envie uma solicitação para evasaoverde@gmail.com.

São Domingos 05/03/2011

Desta vez as evasões foram até ao coração do “Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina” para conhecer os três percursos pedestres de Odemira. O primeiro a ser realizado foi o PR2, denominado de “São Domingos”.

Com uma extensão de aproximadamente 8,1 km em caminhos de asfalto e terra batida, o percurso principiou no centro da aldeia de São Luís, e conduziu-nos desde os campos agrícolas que ladeiam o povoado, até aos bosques de eucaliptos que sobem aos 381 metros de altitude do Cerro de São Domingos.

Aqui, na varanda de um farol abandonado, a Costa Vicentina começa a revelar a sua natureza: o azul do mar e o verde do montado prolongam-se na distância, numa terra de sol, que entre as nuvens aparece jovial, para despertar a vegetação que começa a florir.

Do alto foi possível desfrutar uma paisagem magnífica sobre a serra de Monchique, Milfontes, Porto Covo, Sines e acompanhar o serpentear do rio Mira até à foz.

Deixando o alto do Cerro, descemos para o trilho principal, percorrendo suaves cumeadas em zonas de bosque, onde é fácil ser surpreendido por lebres e excelentes panorâmicas sobre o Mira.

Uma descida acentuada conduziu-nos subitamente através de um corta-fogo para uma planície verdejante, ladeada por sobreiros e pintalgada com os amarelos, brancos e vermelhos das flores silvestres que perfumavam o ar.

No final da planície surgiu um caminho por entre um bosque, que conduziu-nos até ao lavadouro público de São Luís, onde as casas térreas e brancas, vigiadas pelo campanário da igreja, aguardavam-nos ao final de uma tarde serena e luminosa no sudoeste alentejano.

Para mais informações sobre o trilho clique aqui. Para obter o trilho em formato GPX ou KML, envie uma solicitação para evasaoverde@gmail.com.

terça-feira, 1 de março de 2011

Rota da Citânia | Fotos

Um trilho que poderia ser realizado facilmente em menos de três horas durou aproximadamente o dobro. As razões para tal atraso foram várias e extraordinariamente válidas, especialmente o argumento de um fabuloso dia de sol, anunciando o final do Inverno, em montes minhotos que começam a florir.

Para começar, o Museu da Cultura Castreja alojado no Solar da Ponte, em São Salvador de Briteiros (logo no inicio do trilho), surpreendeu-nos à chegada, com amostras da pesquisa arqueológica realizada em 1877 por Martins Sarmento na Citânia de Briteiros.

Após vislumbrarmos alguns “despojos arqueológicos” das memórias milenares de uma civilização perdida na vertigem do tempo, partimos para o Monte de São Romão, sítio arqueológico onde se encontra localizada a Citânia.

O caminho conduziu-nos por um bosque composto por castanheiros e carvalhos, alternado com eucaliptos e pinheiros, que crescem na margem do Rio Febras. Não foi preciso andar muito para começarem a surgir pequenas cascatas, ladeadas por velhos moinhos construídos sobre o granito, que revelam o quadro agrícola das práticas de uma terra onde as plantas serviram de alimento e matéria-prima para o vestuário e habitação das gentes de outros tempos.

O arvoredo relativamente complexo, envolvido pelos tons intensos dos líquenes, dos musgos e dos fetos, fez-se acompanhar pelo borbulhar do Febras até ao cruzamento que nos afastou temporariamente do trilho para conhecermos a cascata mágica de Portuguediz (local que vale a pena visitar, por diversos motivos que não serão aqui divulgados), e as grandes pedras graníticas irmãs designadas por “Bolos”, vizinhas de um moinho antigo repleto de mistérios (que também não serão aqui expostos).

Depois de regressarmos ao troço principal do trilho, e caminharmos mais algumas centenas de metros, a vegetação densa transformou-se com a chegada às cumeadas. As urzes, os tojos e as giestas, pintaram o caminho até ao Monte de São Romão com as suas flores amarelas. As muralhas graníticas aguardavam-nos.

Dizem os investigadores que as muralhas da Citânia revelam um “estado de guerra endémico”. Para outros “as muralhas tinham um fim meramente simbólico para evidenciar poder”. O que é certo, é que percorrer a Citânia permite efectuar uma viagem no tempo de 2000 anos até a um período que antecede a chegada dos romanos à península.

A Casa do Conselho, local onde os chefes das principais linhagens da Citânia reuniam-se para conversar sobre os assuntos importantes do povoado, revelou-se um óptimo local para uma boa sesta, com o vale do Ave como cenário, recordando a rota fluvial por onde chegavam os barcos com sal e mercadorias oriundas do litoral e do longínquo Mediterrâneo.

Depois de calcorrearmos os arruamentos da Acrópole, voltamos ao trilho que nos conduziu por bosques de eucaliptos claramente maltratados pelos desportos radicais motorizados e pelos resíduos de uma civilização “pouco civilizada”.

As áreas rurais, banhadas pelo por do sol, e os caminhos empedrados do antigamente, fizeram-nos esquecer algumas “lástimas ambientais”, conduzindo-nos através de quintas e quintais até São Salvador de Briteiros, onde o Solar da Ponte aguardava, para receber-nos mais uma vez, agora com tons laranja de final de dia, no ultimo quadro de um trilho que vale a pena conhecer.


Foto 1: Bosque misto na margem esquerda do rio Febras.



Foto 2: Cascata no rio Febras a caminho de Portuguediz.



Foto 3: Portuguediz e o seu curso de água que desliza sobre as costas de um penedo de granito: difícil de descrever, difícil de fotografar.



Foto 4: Atravessando Portuguediz.



Foto 5: O vale do Ave, observado do Monte de São Romão: as torres das igrejas e os campos agrícolas destacam-se num horizonte mais próximo, servindo de fronteira a um urbanismo intenso, que se encontra diluído ao longe na paisagem.



Foto 6: A Citânia.



Foto 7: A Casa do Conselho.



Foto 8: O grupo dos “Trekkers” que participaram nesta evasão, num penedo adjacente à Casa do Conselho.



Foto 9: A Casa do Conselho observada de outro ângulo.



Foto 10: A Citânia observada de outro ângulo.



Foto 11: Regresso a São Salvador de Briteiros.



Foto 12: O Solar da Ponte: “a casa” do Museu da Cultura Castreja.