segunda-feira, 28 de março de 2011

Rota do Passado | Fotos

A planície Alentejana encontra-se repleta de mistérios antigos que se escondem entre as pedras de antas, castelos e templos. A “Rota do Passado”, para além de contemplar uma componente paisagística bastante diversificada, foi uma autêntica viagem no tempo.

O trilho proposto pela Organizações Turisterra permitiu-nos visitar locais de enorme riqueza histórica, de uma forma que superou as nossas expectativas.


Iniciamos a caminhada em Valverde, onde os nossos anfitriões nos aguardavam hospitaleiramente. As condições meteorológicas ameaçavam aguaceiros, que só apareceram verdadeiramente no final do trilho. Durante o dia as nuvens foram dando algumas oportunidades de o sol brilhar, permitindo que este despertasse as flores que pontilhavam o verde intenso das pastagens com brancos, amarelos e lilases.

Começamos por um caminho florido, que passou por antigas pastagens, que se encontravam repletas de água e girinos. Ao final de algum tempo foi possível contemplar um dos pontos de especial interesse do dia: o monte onde se encontram as ruínas do “Castelo de Giraldo”.

O “Castelo de Giraldo” é essencialmente um antigo castro da idade do bronze, cuja muralha subsistiu até ao presente. Para além disso, existem escritos do século XV que se referem à fortificação, associando-a à presença de Giraldo “Sem Pavor”, guerreiro que conquistou Évora aos muçulmanos em 1165, tendo utilizado o monte como um ponto estratégico para conseguir o seu objectivo.

Para chegarmos ao “Castelo” tivemos que subir o Monte da Provença, passando pela sua capela, repleta de recordações de promessas feitas por gentes de “alma lusa”: mulheres que viram os maridos partir para a guerra, mães que pediram ao divino a cura para os males dos filhos, gentes que sofreram com a fome e suplicaram por mesas mais fartas. Os Turisterra, conhecedores das gentes e dos locais, solicitaram à cuidadora da igreja que nos abrisse a porta deste local repleto de sentimento e sombras de relíquias antigas, que ilustram o espírito de ser português num Portugal real.

Respeitosamente partimos, continuando a subida da Provença através de uma área onde o caminho fora recentemente lavrado, sem "motivos compreensíveis", uma vez que encontrávamo-nos numa zona arborizada.

Uma vez chegados às muralhas do “Castelo” pudemos avistar a cidade de Évora e a aldeia de Valverde, e fazer uma pausa para observar a área por onde se iria estender o nosso caminho.

Descemos do monte do "Castelo" através de um bosque de eucaliptos, onde foi possível avistar algumas colmeias (felizmente o tempo estava suficientemente húmido para manter as abelhas ocupadas nas suas lides domésticas), e seguimos novamente até às imediações de Valverde, passando por um charco repleto de rãs.

Atravessamos a ribeira de Valverde e seguimos pelo Montado rumo à Anta grande do Zambujeiro. O caminho encontrava-se ladeado de pastagens imensas pontuadas por sobreiros e vacas que pastavam calmamente.

A Anta aguardava pacientemente por nós. Considerada como a maior da Península, transporta-nos para o Neolítico, tempo em que foi utilizada para enterrar e homenagear os mortos, servindo provavelmente também como um Santuário para os vivos.

O caminho curvou novamente para as imediações de Valverde, passando perto do Aqueduto do Conventinho do Bom Jesus, mandado edificar no século XVI pelo Cardeal Infante Dom Henrique, primeiro arcebispo de Évora e futuro rei Henrique I de Portugal, nos terrenos da Quinta do Paço de Valverde, para albergar uma comunidade de frades capuchos.

Os capuchos ficaram para trás e seguimos para uma área de pasto, diversificada na sua ocupação. Porcos pretos, bois, e ovelhas receberam-nos calmamente com o seu sorriso enigmático, que se alargou quando partilhamos com eles alguma fruta que trazíamos na mochila.

Deixamos o gado por alguns momentos, e mergulhamos em planícies verdes vigiadas por Antas e cegonhas que descreviam longas parábolas sobre as nossas cabeças. Do caminho avistamos a Anta da Mitra, a Anta do Álamo, passamos por um charco repleto de avifauna, até que chegamos à pequena e sincera Igreja da Nossa Senhora de Tourega. Mais uma vez, os Turisterra contactaram o cuidador do local, que gentilmente nos abriu a porta do templo para que pudessemos conhecer o seu interior antigo repleto de significados.

Deixando Nossa Senhora de Tourega, dirigimo-nos para o amplo complexo termal da Villa Romana, utilizada desde meados do século I até finais do século IV d.C. como “SPA” junto à estrada romana que ligava Évora a Alcácer do Sal.

Hoje restam apenas três tanques de banhos, de planta rectangular, construídos por muros de argamassa, que nos recordam um passado remoto, agora presente sobre o espelho de água da barragem da Tourega.

Seguimos para jusante da barragem, contemplando o sistema de arejamento da água da albufeira, água esta que passa sobre toda a extensão da estrutura, descendo por uma sucessão de escadas até à sua restituição à ribeira.

Posteriormente, o nosso guia dos Turisterra conduziu-nos para a margem da albufeira, para supostamente “contemplarmos as vistas”. Subitamente, no horizonte surgiu um barco “zebra” com um condutor hospitaleiro que se aproximou da margem, convidando-nos para entrar. O navegador (dos Turisterra) conduziu-nos ao longo de aproximadamente 1,5 quilómetros pela albufeira, poupando-nos um troço pedestre do caminho, que se converteu em navegação sobre as águas calmas da Tourega.

Os Turisterra tinham mais uma surpresa depois da viagem de barco: quando atracamos na outra margem tínhamos um churrasco à nossa espera, acompanhado de bom vinho e boa companhia.

Colocado o barco em terra, seguimos rumo ao Moinho do Cavaterra, acompanhando a bela Ribeira de Valverde. Atravessamos uma ponte pedonal, já ao entardecer, e seguimos por uma área semi-alagada que nos conduziu até à aldeia, sempre próximos do curso de água.

A beleza natural deste troço foi uma constante até ao final do trilho, que incluiu uma pequena paragem para admirar a fonte onde se encontra a estátua de Moisés (já em Valverde).

Quando percorríamos os últimos metros de caminho rumo ao café da Junta de Freguesia (local onde tínhamos deixamos as nossas viaturas), a chuva entretanto fez-se sentir, assim como a satisfação genuína de ter efectuado um belíssimo trilho, na companhia de um grupo de caminhadas acolhedor, que impulsiona de uma forma hospitaleira e informada, a divulgação do património histórico e natural de um Alentejo que vale a pena descobrir “passo a passo”.

Muito gratos partimos, com o desejo de voltar para descobrir muitos outros pontos de interesse que existem na região, e desfrutar da boa companhia dos nossos camaradas do Sul.

Esculpida sob um céu surpreendentemente estrelado, Évora aguardava-nos com um bom jantar.
No Domingo, o prometido foi devido: a visita ao Templo de Diana.

Após o excelente concerto de Terrakota (Sexta-Feira), a descoberta da “Rota do Passado” na companhia dos Turisterra (Sábado), a visita ao Templo de Diana e ao centro histórico de Évora (Domingo), decidimos seguir para o Cromeleque dos Almendres, onde encerramos a nossa Evasão, rodeados por um círculo de pedras milenares, daquele que provavelmente foi um dos mais importantes observatórios astronómicos da antiguidade.


Com as botas cheias de terra, e a mente repleta de paisagens autênticas, deixamos um Alentejo florido, transbordante de natureza e mística, que nos aguarda para uma próxima Evasão.

2 comentários:

Paulo Manços disse...

Olá Pessoal
Fico contente por terem ido visitar o Cromeleque, mas pelo que vejo não chegaram a ir ao menir.Fica para a próxima.Só vos tenho a dizer uma coisa. Vocês são um grupo fantástico, tivemos um enorme prazer em vos acompanhar. Sempre que precisarem, nos cá estaremos. Boas caminhadas.

Evasão Verde disse...

Olá Paulo,

Faço das tuas palavras minhas! Vocês também são um grupo fantástico!

Quando quiserem organizar uma visita ao Norte para efectuar um trilho avisa, que propõe-se um menu de opções! E claro está… no final da caminhada está prometida uma visita gastronómica à região.

Em Maio voltamos ao Alentejo para o Festival Islâmico de Mértola. Vou começar a procurar um trilho para fazermos por lá. Se quiserem juntar-se a nós para uma visita ao Baixo Alentejo pode ser uma ideia interessante a desenvolver. Pensa nisso… entretanto comunicamos.

Um grande Abraço e até breve.

Boas caminhadas.