Depois de explorarmos os três trilhos pedestres de Odemira, ficamos com curiosidade em conhecer o fim da Costa Vicentina - o Cabo de São Vicente.
De acordo com o website “O Portal do Algarve”, o Cabo já era considerado um lugar sagrado nos tempos Neolíticos. Os antigos gregos chamavam-no de “Ophiussa” (Terra das Serpentes), habitado pelos “Oestriminis” (Gentes do Extremo Oeste), enquanto os romanos referiam-se ao Cabo como “Lugum Cineticum” - o lugar onde o sol era cem vezes maior que até fazia ferver o mar. Os cristãos seguiram a tradição e dedicaram a última zona da terra então conhecida a São Vicente, dando também o nome à costa adjacente (Costa Vicentina).
Conta a lenda que o corpo de São Vicente foi transportado no século IV para uma ermida erigida neste lugar remoto, que viria a ser destruída pelos “almorávidas” (monges guerreiros árabes) no século XII. Mais tarde, nos reinados de D. João III e D. Sebastião, foi aqui erguida uma fortaleza, que viria a ser destruída pelo corsário inglês Francis Drake e refeita em 1606.
Com uma paisagem indescritível, onde a terra com os seus rochedos corta o mar infinito, o Cabo de São Vicente é imagem do sentimento descobridor Português. Para norte, fica a costa atlântica batida pelos ventos, enquanto para leste está a costa algarvia de águas mais quentes e mar suave. Ainda hoje, boa parte da navegação comercial entre o Mediterrâneo e o Atlântico passa ao largo deste cabo, o que permite imaginar a riqueza arqueológica destes fundos.
O trilho “Arribas do Cabo de São Vicente”, com uma extensão de aproximadamente 10,5 km e um grau de dificuldade moderado, não se encontra sinalizado, tendo sido obtido a partir da Wikiloc, e realizado com o apoio de um dispositivo GPS.
Com inicio no parque de estacionamento do Núcleo Museológico do Farol de São Vicente, o trilho começou por percorrer as falésias do Cabo, com panorâmicas fantásticas do farol e das enseadas que o separam de Sagres, onde durante largos séculos os navios resguardaram-se dos ventos, esperando condições favoráveis para desafiar o Atlântico.
Quando chegamos próximo da Fortaleza de Belixe, depois de alguns quilómetros pela parte sudoeste, o trilho conduziu-nos para uma travessia através do interior do cabo, passando por uma área plana (paraíso autêntico dos botânicos e dos amantes do “Bird Watching”), com o azul do oceano como fundo, e um céu povoado por aves suspensas sobre o verde intenso da paisagem pintado com as cores das flores que despontam.
Entre as delicadas fragrâncias de uma vegetação rasteira e diversificada, chegamos à praia da Armação Nova. Abraçada por falésias colossais que surpreendem com a sua verticalidade e extensa projecção na linha de horizonte, a praia, localizada na costa noroeste do cabo, revela-se como um dos quadros mais sublimes do trilho.
O sol encontrava-se na iminência de mergulhar na linha do horizonte. Após uma breve pausa para contemplar a Armação Nova, continuamos a caminhada rumo ao farol que entretanto despertou com o seu pulsar intermitente, ao som do cântico dos grilos e das aves, que anunciavam o final do dia. As falésias tornaram-se azuladas, e a noite entretanto chegou.
Quando nos aproximamos do farol, a luz da lua em quarto crescente iluminava o vulto de um pescador e a sua cana de pesca com linha invisível sobre o abismo, contemplando a borda negra de um Atlântico nocturno onde as primeiras estrelas começavam a despontar.
2 comentários:
Fotos lindíssimas! Parabéns pelo Blog Pedro.
Abraço,
Vicente Bento
Obrigado Vicente!
Tens que aparecer na próxima.
Descobri que para se tirar boas fotografias não é preciso ser bom fotografo nem ter uma óptima máquina.
Basta acordar cedo, calçar as botas… e partir. O caminho encarrega-se do resto… basta disparar! :)
Um Abraço!
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