O ponto de partida do nosso percurso foi o Parque do Santuário do Coração de Maria. O trilho desenvolveu-se pela encosta da Serra, atravessando algumas zonas agrícolas e outras com grandes manchas de carvalhos, eucaliptos e pinheiros bravos, onde pontualmente foram aparecendo sobreiros e medronheiros.
Atravessando caminhos rurais, além do modo tradicional de trabalhar a agricultura, pode observar-se também alguns campos de produção de linho. De acordo com os painéis informativos do percurso, “a indústria linheira afirmou-se como uma actividade caseira, individual, dispersa, servida por uma técnica artesanal arcaica, que mais tarde veio a ganhar uma grande relevância na região”.
Seguimos ao longo de pequenos ribeiros de água fresca e cristalina que descem as encostas do Caramulo, revelando-se o habitat de uma grande diversidade de fauna e flora. Aqui a complexa vegetação rasteira cresce à sombra dos carvalhos, freixos, amieiros, pinheiros e eucaliptos, enquanto nos recantos mais húmidos e sombrios despontam os fetos.
Nas margens dos ribeiros encontramos diversos moinhos em granito suspensos no tempo e nos musgos verdes que lhes dão cor. Embora estas construções tenham perdido o protagonismo de outrora, ainda hoje, por aqui, os curso de água permanecem ladeados por estas estruturas que, aproveitando os desníveis da água transformavam o cereal em alimento. Consta que alguns, ainda que poucos, continuam em funcionamento.
Entrando no troço correspondente à rota dos laranjais, descobrimos diversos placares informativos com a história da chegada da laranja ao nosso país. Ficamos a saber que a laranjeira é originária da Ásia, tendo sido trazidas da China em 1593 as melhores variedades, contribuindo assim para a presença destas árvores na região.
O nosso trilho conduziu-nos a Castelões, em tempos terra de “gente nobre e de grande importância”. Uma marca desta fidalguia está patente no solar da Quinta da Cruz, que o tempo logrou deixar ao abandono, levando-o a um estado de acentuada ruína.
Passamos pelo majestoso cruzeiro da Quinta da Cruz, que alude a um evento típico desta região: a Festa das Cruzes, realizada na quinta-feira da Ascensão no Guardão. Esta festa começa no lugar da capela de São Bartolomeu, onde outrora existiu um castro, local onde se concentram gentes de várias freguesias comemorando a estrondosa vitória alcançada contra os mouros, cujo castelo foi tomado e assaltado pelos habitantes desta freguesia (e diz-se serem os de Castelões o primeiros ao assalto, e por isso os mais valentes).
Percorrendo o Vale de Besteiros, local onde Briceu, rei lusitano acampou e recrutou os dois mil guerreiros com os quais subiu a serra ao encontro dos mouros, percebemos o porquê desta festa milenar, que alude ao “abraço” dado pelo povo de Guardão aos soldados que ali lutaram. Segundo consta, após a vitória, o povo acorreu à igreja para agradecer ao divino, iniciando uma tradição que hoje se mantém com a “procissão das cruzes”.
Saboreamos diversas laranjas, enquanto percorríamos pequenos pomares e laranjais dispersos entre as galerias de vegetação ribeirinha dos cursos de água. No entanto, as laranjas estavam um pouco ácidas (mas bem vitaminadas). Mais tarde constatou-se, depois de uma pesquisa bibliográfica, que os melhores meses para saborear as laranjas do Caramulo são Maio e Agosto, uma vez que esta região é caracterizada pela produção da chamada “laranja tardia” (a confirmar em novas visitas).
Finalizamos o trilho ao final da tarde, no santuário onde horas antes havíamos partido. Para terminar o dia em grande, demos um salto ao Caramulinho para desfrutar de um por de sol sublime sobre uma terra que têm muito para oferecer a quem a desejar conhecer através dos seus excepcionais percursos pedestres.
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