Os livros dizem que a Rota da “Cascada de Sotillo” é uma das mais bonitas do Parque Natural do Lago Sanabria, e possivelmente uma das mais conhecidas. De facto, os livros estavam certos, e as palavras mais uma vez relevem-se escassas para explicar o porquê desta afirmação.
No dia 20 de Fevereiro, iniciamos um percurso de aproximadamente 14 quilómetros na pequena igreja de Sotillo, a poucos quilómetros de Sanabria, seguindo por uma estrada sinuosa de pedra, ladeada por carvalhos despidos rumo a ocidente. Com a companhia pontual de algum gado calmo, atravessamos o pequeno “Rio Truchas”, alcançando uma área aberta, com uma vasta panorâmica sobre o vale e sobre as cascatas de Sotillo, que ao longe pareciam congeladas, apesar do burburinho distante da água que se fazia sentir.
Depois de uma sessão fotográfica à paisagem envolvente, dirigimo-nos para o alto da serra, passando por um magnífico circo de montanhas, ladeando uma planície repleta de ecos e de vestígios enigmáticos de animais que recordam a feliz presença do lobo ibérico nestas andanças.
Ao final de alguns quilómetros de uma subida tranquila alternada por zonas de carvalhos, pequenas áreas abertas de planalto, penedos esboroados e regatos gelados, chegamos à bifurcação de acesso à lagoa de Sotillo. Ao final de poucos minutos, fomos subitamente confrontados com uma visão inesperada: um vasto espelho de água gelado, brilhando na montanha. Mais uma vez, o cenário assemelhou-se a uma fantasia invernal de um qualquer escritor de contos do norte da Europa.
Após nova sessão fotográfica à lagoa, do alto dos penedos que a preservam, sem saber exactamente o que fotografar devido à elevada taxa de elementos estéticos por metro quadrado, seguimos por um prado aberto até ao maravilhoso bosque que guarda a Cascata de Sotilho. Mais uma bifurcação, e uma extraordinária visita a um dos elementos mais preciosos do percurso.
Gradualmente, um bafo frio foi-se fazendo sentir acompanhado de um murmúrio crescente recordando uma queda de água. Entre os ramos dos carvalhos surgiu o corpo de um gigante branco intenso, contrastante com os castanhos desmaiados da vegetação. A cascata de gelo brindou-nos com uma presença indiscritível: como que por magia, parecia que a alta queda de água tinha sido suspensa num instante único, transformando-se numa monumental estátua de cristal brilhando no coração da floresta.
Abandonamos a cascata, e descemos pela encosta com passo rápido, desviando-nos dos peliculas de gelo trapaceiro, e das folhas secas deslizantes, chegando no meio de uma tarde luminosa ao parque de merendas de Sotillo. Já na aldeia, uma anciã vestida de preto apontou-nos o caminho para a igreja, fechando o circuito de um percurso que valerá a pena repetir.
A tarde transformou-se em noite. Puebla de Sanabria acolheu-nos mais uma vez com as suas muralhas, onde retemperarmos forças naquele que provavelmente é o melhor restaurante de todo o povoado e arredores: a Méson Abelardo. Frio e carnavalesco findou-se o segundo dia desta Evasão por terras sanabresas.
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