O Porto é mais do que aquilo que os roteiros turísticos apresentam: a cidade ostenta uma identidade própria, repleta de história que se perpetua no casario antigo e no olhar das gentes que estendem lençóis perfumados nas varandas sobre o Douro.
O caracter único da Invicta perdura na arquitectura, nos monumentos, nos espaços de lazer e até nas ruas. A proposta de hoje foi descobrir o Porto, numa visita que procurou analisar algumas componentes históricas, ecológicas e sociais da cidade, contemplando “o Porto do romantismo”, a fábrica de Massarelos e as recordações de uma antiga burguesia que subsistem ao tempo.
Partindo dos jardins do Palácio de Cristal, seguimos pelos caminhos do romântico, perfumados pelas fragâncias invernais de plátanos cansados que fitam a cidade há séculos. Na frescura matinal de um Domingo cinzento o Pedro Jorge Pereira, do projecto “Porto de Encontros”, revelou-nos fragmentos de um passado escondido, ao alcance de um olhar mais atento.
Um passado rico em memórias, escritas nas hortas e nas árvores de fruto enraizadas entre muros, que corre o risco de perder-se, devido à falta de um investimento real que assegure a manutenção de um urbanismo sustentável no centro histórico da cidade, aproveitando o casario antigo e os espaços verdes que pintam a Invicta com as cores do Inverno.
Os caminhos antigos, ladeados por uma flora selvagem que embeleza os muros de pedra que delimitam o percurso, conduziram-nos a hortas fecundas que resistem na periferia de fontes secas. No horizonte, avistamos o vale do Douro, composto pela simbiose entre o rio e Vila Nova de Gaia, “chão sagrado” onde repousa com tranquilidade o néctar precioso que projecta a nossa cidade além-fronteiras: o vinho do Porto.
As portadas de antigas casas, na maioria desabitadas, retractaram de uma forma persistente um cenário de abandono, cuja ausência de manutenção e limpeza, começa a esconder o seu traço original.
Enquanto o sol viajou escondido na cúpula celeste, fornecendo às nuvens contrastes intensos nos cinzentos, as horas passaram entre o casario colorido que foi despertando para o almoço. Fragâncias a estrugidos, misturadas com a presença contínua de gotículas invisíveis que transportavam no ar a essência do rio, acompanharam-nos até perto da Cordoaria.
Encerramos o percurso com uma vista soberba sobre o velho casario que ladeia o Douro junto à Alfandega, com a Ponte da Arrábida como pano de fundo, ponderando sobre a urgência de preservar este Porto tão nosso, que empresta a Portugal um Norte forte, repleto de sentido e sentimento.
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