segunda-feira, 19 de março de 2012

À descoberta da Serra de Aire e Candeeiros | Fotos

Viajamos em direcção a Sul para descobrir um reino de pedra que se estende nas imediações de Alcobaça, terra dos monges brancos de Cister, zelada por templos e galerias profundas, num espaço repleto de paisagens infindáveis, ampliadas por uma vasta dimensão histórica que se perpetua no tempo e no horizonte.

O simples erguer do maciço calcário Entremenho a altitudes superiores a 200 metros é suficiente para o distinguir das áreas circundantes, todas elas situadas a níveis inferiores, e a subida aos pontos culminantes da Serra de Aire e Candeeiros abre horizontes insuspeitos a mais de 600 metros de altura.

Chegados a Alvados, partimos da igreja branca do pequeno povoado rumo à Fórnea, estranho fenómeno natural semelhante a um anfiteatro, com 500 metros de diâmetro e uns admiráveis 250 metros de altura, que configura um vale em forma de U formado pela erosão provocada pelas chuvas.

Depois de percorrer o interior da Fórnea, dirigimo-nos para alto do anfiteatro pela cumeada, de onde se descortinam inúmeros povoados entre a serra e o oceano, inseridos em mantos de verdura dos mais variados tons. Mas como se o relevo não bastasse para marcar a singularidade desta terra, acresce-se uma geologia característica, pautada pelos calcários que nos oferecem a secura que marca a paisagem e as formas, que quase se poderiam dizer exóticas, que caracterizam o relevo.

A permeabilidade da rocha calcária impede a presença visível de cursos de água que se escondem em grutas profundas, contribuindo assim para a sensação de nudez que se desprende das montanhas, enquanto a natureza de pedra, conjugada com os efeitos da erosão, se encarregam de conferir ao conjunto um ar vigoroso, agreste, e simultaneamente atraente.

A água que cai no solo perde-se numa vasta e complexa rede de cursos de água subterrâneos que minam o maciço em todos os sentidos. É esta tão misteriosa rede subterrânea que se vai manifestar à superfície das mais variadas formas, nomeadamente na riqueza de vegetação que perfuma o ar: o alecrim, o rosmaninho, a murta, a bela-luz, o funcho, a roselha, a dedaleira, o tojo molar, a esteva e o tomilho, conferem ao cenário uma cor especial, prestes a acentuar com a chegada da Primavera. Mas o elemento dominante da vegetação é sem dúvida a oliveira, reflexo da acção dos monges cistercienses de Alcobaça que iniciaram a sua plantação no início de século XVII.

A vida rural é ainda a habitação, o forno de pão, os abrigos, as eiras, os moinhos de vento, que apesar de abandonados, ainda sobressaem no cimo das encostas. Os granitos e os xistos tão característicos de outras regiões de Portugal deixam de ter no maciço calcário Entremenho qualquer expressão. Aqui, foi o calcário, abundante e fácil de trabalhar, que se tornou a matéria-prima por excelência para a construção.

Depois de efectuarmos um percurso magnífico com aproximadamente 16 quilómetros, dirigimo-nos até à Gruta dos Moinhos Velhos, verdadeiro nome das “Grutas de Mira de Aire”, para percorrermos 600 metros dos mais de 11 quilómetros até agora conhecidos de uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, finalizando assim um dia intenso repleto de paisagens deslumbrantes e locais secretos ao alcance de todos.

Sem comentários: