Desta vez fomos até ao distrito de Braga para descobrir as terras que se estendem nas imediações de Esposende. Esta tira de costa litoral portuguesa, no eixo Atlântico entre Vigo e o Porto, é rica em memórias.
Em terras baixas polvilhadas pelo casario disperso, revelador de um (des)ordenamento territorial português “tão típico”, percorremos as margens do Neiva, ao longo de dois trilhos interessantes (mas bastantes urbanos em algumas passagens), que permitiram descobrir antigos moinhos perdidos entre a vegetação.
Os caminhos empedrados sucederam-se entre estradas de pó e alcatrão que conduziram-nos até pequenos povoados rasgados pela auto-estrada. Entre a desorganização do território e algumas zonas descaracterizadas pela indústria e por obras arquitectónicas confusas, encontramos perdidos alguns elementos estéticos preciosos que nos transportam para outras épocas em que a força do rio gerava trabalho para preparar os tecidos e moer os cereais necessários para sustentar um povo.
Antigas pontes de pedra ladeadas por moinhos, caminhos antigos entre a vegetação, e ao longe o som surdo do oceano, o qual adivinhamos desde logo pela presença de fragrâncias que viajavam pelo ar de um dia quente de um Verão inesperado… em pleno Outono.
Depois de efectuarmos o trilho “Azenhas de Antas” seguimos para “Entre o Neiva e o Atlântico”, continuando de uma forma ininterrupta a caminhada pela margem esquerda do rio rumo à foz.
O Atlântico aguardava-nos com uma costa suave esculpida com dunas e pedras soltas alinhadas cuidadosamente na borda da praia. Depois de percorrermos uma extensa área dunar, regressamos a zonas agrícolas, que nos conduziram com as cores do entardecer à capela de Santa Tecla, lugar palco de procissões de domingo, de bailes, e da famosa performance da “Vaca de Fogo”, uma espécie de caixa pirotécnica em forma de vaca, que um homem coloca às costas e percorre alguma distância, com a "vaca" a disparar para todos os lados, "bichas de rabear" luminosas.
O rio Neiva, as praias, as azenhas, os castros, são motivos de interesse para explorar um concelho de Portugal rico em património construído pela mão humana que importa preservar, salvaguardando-o de uma urbanização desorganizada e inconsequente que oculta aspectos valiosos a descobrir… caminhando.
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