O Outono caminha quente e seco rumo ao frio.
Manhouce e os povoados vizinhos revelaram-se numa paisagem repleta de vinhas por podar: os cachos de uvas maduras, fermentadas nas próprias vinhas reflectem um abandono das lides da terra, que se pode também sentir nas escolas fechadas, sozinhas em aldeias antigas, vigiadas por cães velhos e arvores repletas de castanhas e figos maduros por colher.
O trilho apresentou-se diversificado, repleto de elementos rústicos, emoldurados por uma paisagem composta por pedras graníticas arredondadas nos pontos mais altos, e áreas arborizadas onde os Quercus espreitam entre pinheiros, ladeando cursos fluviais que aguardam pelas águas serranas que tardam chegar às encostas ressequidas das montanhas.
Aromas doces, caminhos romanos fragmentados entre linhas de alcatrão e betão, casas antigas e velhas quintas, foram elementos que acompanharam um percurso interessante, por vezes enegrecido por extensas áreas ardidas, que rejuvenescem lentamente ao ritmo das estações e dos “desejos” dos povos que perspectivam o ordenamento da paisagem.
Esse ordenamento, muitas vezes desordenado, faz com que o trilho apresente sérios problemas de sinalização, sendo bastante difícil efectua-lo sem a preciosa ajuda de um equipamento GPS. Durante o percurso tivemos de abrir diversos portões, e levantar troncos que aparentemente bloqueavam o percurso para manter os animais cativos em áreas confinadas (segundo o que nos foi comunicado por uma aldeã, habitante de uma pequena povoação próxima de Manhouce).
O que é certo é que tivemos de atravessar uma quinta aparentemente abandonada, passando uma "cerca estranha", para podermos alcançar o trilho, sem o auxílio de sinalização coerente. A carência de sinalização, segundo um cidadão local que encontramos num “tasco” no inicio da caminhada, deve-se ao “abate de alguns pinheiros”, o que resultou na perda das preciosas marcas que definem o trilho.
Resolvemos as situações dúbias e efectuamos o trilho com sucesso. No entanto fica a nota, que é urgente re-sinalizar “A rota de Manhouce” para garantir que todos aqueles que desejam conhecer os magníficos atributos paisagísticos dos percursos pedestres de São Pedro do Sul podem faze-lo com conforto e segurança, recorrendo apenas ao panfleto do trilho e às marcas que supostamente deviam ter orientado a nossa caminhada.
Abandono e esperança, morte e regeneração, pedras e betão ingenuamente colocado nas frestas de muros e barracos para fins incertos, fragmentos de uma memória agrícola entre ribeiros e montes antigos, maltratados pela mão do homem e pela demora de uma estação preguiçosa que tarda chegar com a sua preciosa água regeneradora que a paisagem anseia veementemente, são impressões que ficam e registamos aqui pensando ser úteis para aqueles que desejam calcar esta terra que tanto tem a oferecer.
Passo a passo, em pedras trementes vacilantes, olhamos em busca de limites vagos na distância. Surpresas em cada momento, que por serem breves e preciosas, ficam suspensas na memória, incentivando-nos a novos caminhos que se avizinham.
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