Uma pedra redonda, suspensa num equilíbrio perpétuo; montanhas com rochas esboroadas pelas encostas, abrigando nas concavidades térreas coelhos e lebres; pastores velhos e cães magros conduzindo cabras pelos matos altos da serra; regatos rápidos, escorrendo pelos povoados, sustentando os campos e o gado sereno; casas antigas com cheiros a cinza e ervas húmidas, com traves de madeira negra sobre paredes cinzentas polvilhadas de musgos… são quadros vivos que percorremos num Domingo luminoso de finais de Novembro.
A Serra do Caramulo, zona de montanha de origem granítica e xistosa, decorada por urzes e carqueja, é povoada por aldeias com casas e espigueiros em granito típicos. Tendo sido esta zona povoada por romanos, ainda se podem encontrar alguns vestígios dessa época, como os trilhos de pedra e as pontes antigas perdidas na vegetação.
Iniciamos a Rota dos Caleiros na base do Caramulinho, local onde se atinge o ponto mais alto da Serra com 1070 metros, e de onde se pode observar das paisagens mais imponentes da Serra do Caramulo: a oriente a Estrela, a ocidente o Atlântico.
Daqui seguimos pelo estradão que, por um lado rasga a paisagem rochosa, e por outro acompanha as pastagens de montanha, evidenciando a tradição da pastorícia e trabalho agrícola nestas terras de clima rigoroso, onde o granito sulcado acusa a passagem de carros puxados por animais, e onde até hoje, se respira um ar puro e saudável.
Ao atingir a estrada asfaltada, percorremos poucos metros até entrar nos caminhos que acompanham o trajecto dos antigos caleiros que garantiam o abastecimento da água às povoações, e assim seguimos em direcção a Jueus. Antes de chegar a esta aldeia tipicamente serrana, passamos por dois moinhos, e logo à entrada pudemos ver a capela da aldeia. Do adro observamos o que resta da calçada romana e a ruína do casario que foi o Carvalhal.
O trilho conduziu-nos até ao Pedrógão, onde podemos uma vez mais apreciar a singularidade da paisagem, repleta de formações rochosas que na imaginação de cada um, toma os mais diversos significados: aqui destaca-se o penedo do Equilíbrio, suspenso numa aresta impossível, desde o princípio dos tempos.
Mais adiante surge um novo aqueduto, desta vez construído ao longo de um muro de granito exibindo a minúcia e o engenho que permitia trazer dos pontos mais elevados da serra a água que servia à população para irrigar os seus campos, dar de beber aos animais e efectuar as lides domésticas.
Daqui em diante, percorremos os últimos metros de um percurso voltado para o contacto com a natureza e beleza natural de um lugar que conserva grande tranquilidade e genuinidade. Resta regressar ao troço inicial percorrendo os trilhos da serra, passando por uma de muitas torres eólicas que já imprimem a sua marca na paisagem do Caramulo, em direcção ao Caramulinho.
Fica na memória uma Serra secreta, encantadora, de contrastes e mistura de imagens entre cumes e vales, onde o ar puro, combinado com a paisagem deslumbrante, enche de significados mais uma Evasão num Outono repleto de cor e vida.
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