O percurso decorreu numa zona de montanha, a Serra da Aboboreira, de elevado valor cultural e natural, preservada do progresso urbanístico, por séculos de isolamento geográfico e pela subsequente desertificação humana. Aqui as gentes, ancestralmente adaptadas a esse ambiente e vivendo em tradicionais casas graníticas de arquitectura vernácula, ainda cultivam a leira à força braçal e animal.
Tal ambiente, calmo e pouco povoado, propicia a existência de nichos ecológicos para variadíssimas espécies da fauna e flora de grande valor natural, que aí encontram refúgio. Pelo caminho percorremos bosques de carvalho, campos de cultivo sobranceiros às aldeias e zonas de vegetação arbustiva.
Salpicando a paisagem podemos observar majestosas fragas com formas finamente arredondadas, lembrando silenciosos guardiões da serra. Umas vezes são usadas como apoio amigo que protege das intempéries, pelo que ancestralmente a gente partilhava com elas o seu lar ao construir as suas casas a elas encostadas. Outras vezes, estes geomonumentos, pela desproporção e “equilíbrio ameaçador” em que se encontram, inclinadas sobre as habitações, parecem querer recordar ao Homem a sua pequenez e o quanto a sua existência está nas mãos do destino.
As construções de pendor religioso salpicam a paisagem, como é o caso das capelas de São Clemente, São Tiago, São Brás e São Bento do Pinhão.
Durante o trajecto percorremos caminhos antigos de ladeados de muros de pedra, muitas vezes escavados na rocha-mãe, por sua vez sulcados pelos rodados dos carros de bois, testemunhas do tempo em que a necessidade obrigava a tirar o sustento de terras pobres e declivosas.
Fica o registo fotográfico de um trilho simples, bem sinalizado, rico em paisagens diversificadas e em recantos rurais de elevada beleza, acessíveis a todos aqueles que gostam de caminhar.
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